Sempre fui admiradora das intersecções entre a Comunicação Organizacional e outros campos da ciência, tais como sociologia, antropologia, psicologia e semiótica. Entendo como bastante enriquecedor estabelecer conexões entre estas disciplinas e os temas intrínsecos à área de comunicação interna e cultura organizacional, por exemplo.
Neste sentido, penso que, enquanto pesquisadores de Comunicação, somos privilegiados, uma vez que essa abertura aos outros campos teóricos existe desde a origem da área, e o resultado disso tem sido a obtenção de aporte e contribuições das demais esferas científicas à área, e, com isso, o desenvolvimento da nossa capacidade de lançar um olhar ainda mais reflexivo sobre as inquietações e objetos de estudos da Comunicação.
Ou seja, essa natureza interdisciplinar - que busca o entrecruzamento de diferentes contribuições científicas - é uma tradição da área que, desde sua origem, foi profundamente influenciada por diversas correntes de teorias da Comunicação que tiveram seu embasamento nos campos da semiologia, antropologia, psicologia, etc.
Além deste seu aspecto histórico, a interdisciplinaridade, também se configura como uma tendência na medida em que reflete e reforça os debates híbridos da atualidade que, como observa a autora Vera França*, favorecem o “espírito da nossa época que chama aos transbordamentos, à mistura e estimula a diluição dos feudos, das demarcações rígidas de terreno”.
A autora - que inspirou a reflexão em questão – também contrapõe a ideia de que o “rótulo da interdisciplinaridade estaria resultando na falta de especificidade da Comunicação, enquanto objeto de estudo”. Assim, ela provoca:
“O lugar da comunicação apresenta um olhar próprio? Uma outra compreensão, uma nova contribuição que vai se somar às demais? Ou nós, pesquisadores da comunicação, apenas recolhemos e repetimos as análises feitas nas outras áreas?”
Neste mesmo contexto, a própria autora legitima a Comunicação como um “lugar de conhecimento” que cultiva um viés, um olhar próprio cuja especificidade se propõe a alcançar a interseção de três dinâmicas básicas:
- o quadro relacional (relação dos interlocutores) que pode, eventualmente, ser inspirado pelo olhar sociológico;
- a produção de sentidos (as práticas discursivas) que pode, eventualmente, ser entendido por meio da linguística;
- a situação sócio-cultural (o contexto) que pode, eventualmente, ser entendida pelo olhar antropológico;
A Comunicação, ao desenvolver este viés que dialoga com todas as perspectivas, tem condições de assegurar um olhar especializado, inerente à nossa natureza teórica e prática, que possibilita “um lugar frutífero para analisar e compreender a realidade em que vivemos” e, ao mesmo tempo, estimula “um processo comunicativo de algo vivo, dinâmico, instituidor de sentidos e de relações; lugar não apenas onde os sujeitos dizem, mas também assumem papéis e se constroem socialmente; espaço de realização e renovação da cultura”.
Na minha visão, todas as contribuições de outras áreas da Ciência são valiosas e nosso caráter interdisciplinar deve ser mantido e estimulado, não apenas por que reflete uma tendência contemporânea da ciência de buscar confluências entre diversas áreas do conhecimento. Mas também porque essa característica interdisciplinar, ao contrário do que se possa questionar, não nos delimita enquanto Ciência, e, sim, possibilita o desenvolvimento deste olhar especializado, próprio.
Ao buscar a especificidade deste olhar da comunicação, mais amplo e dialógico - e que considera as três dinâmicas básicas mencionadas anteriormente - teremos condições de quebrar, cada vez mais, o paradigma informacional de comunicação, praticamente hegemônico, cuja abordagem simplista e simplificadora caracterizam um modelo mecanicista de transmissão de mensagens.
Com este olhar mais consolidado e paradigmas quebrados, será possível experimentar com mais confiança, a prática de modelos de comunicação dialógicos e deliberativos como, por exemplo, o que dissertei no último post.
Esta prática, certamente, favorecerá espaço e condições para que, empiricamente, possamos experimentar e analisar os novos modelos de comunicação, bem como seus resultados e evidências, e, a partir deles, produzir conclusões que possam compor e inspirar a conceituação epistemológica da Comunicação, corroborando nossa autonomia e relevância enquanto Ciência que possui um olhar próprio e que gera contribuições singulares.
Fonte: FRANÇA, V – “Paradigmas da Comunicação: conhecer o que?”. Trabalho apresentado no 9º encontro anual da COMPÓS. UnB, DF, 6 a 9 de junho de 2001.
Cynthia, um livro interessante que traz a questão da interdisciplinaridade para o campo da inovação e que recomendo para todos os meus amigos é o "Efeito Médici", de Frans Johansson. Vale a pena conferir! Parabéns pela reflexão. Abs
ResponderExcluirOi Fabio. Obrigada pela recomendação muito bem vinda do livro. Com certeza vou ler. Agradeço seu comentário e sua presença por aqui. Um prazer e uma honra. Abraço.
ResponderExcluirCynthia, sempre aprendo muito quando passo por aqui.
ResponderExcluirObrigada por compartilhar, adorei o post!
Abs,
Ale, eu é que agradeço pela sua presença por aqui. bjo
ResponderExcluirCynthia, sou aluno de Pós-Graduação em Docencia e Gestão do ensino Superior, adorei seu post, me ajudou a tirar algumas dúvidas.
ResponderExcluirParabéns.
Att: Marcelo Hentz São Carlos - SC.
Oi Marcelo. Fico muito contente com este seu comentário. Obrigada! Abraço e boa sorte no seu curso e desafios.
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